Por Lynda Gratton e Andrew Scott

Nos últimos 150 anos, devido a boas práticas, a expectativa de vida aumenta de dois a três anos a cada década – uma criança nascida hoje tem mais de 50% de chance de viver significativamente acima de 100 anos (107 no Japão, 104 nos EUA e 103 no Reino Unido ).

O desafio é que as estruturas sociais do tempo, e especialmente os três estágios da vida: educação, trabalho e aposentadoria, se baseiam em uma expectativa de vida muito mais curta. Aqueles que vivem 100 anos em vez de 70, têm cerca de 100.000 horas produtivas extra. Uma coisa é certa – uma proporção significativa dessas horas extra será gasta trabalhando. Dado as premissas otimistas sobre as taxas de poupança, é provável que aqueles que estão na metade de seus 40 atualmente estarão trabalhando até o início dos 70 anos, e aqueles no início dos 20 anos até o final de seus 70 e possivelmente 80.

Enquanto uma fase de trabalho prolongada cuida das finanças, vidas longas precisam de investimentos significativos em ativos intangíveis [1]. Numa carreira sem intervalos, de 60 anos, a produtividade diminuirá inevitavelmente enquanto as habilidades tornam-se desatualizadas; a saúde mental e física diminuirá; e os relacionamentos se tornarão menos intensos.

Acreditamos que as pessoas responderão ao mudar de uma vida de três estágios para uma vida de multi-estágios com vários estágios distintos a suas carreiras e transições claras no meio. Algumas dessas etapas serão focadas na acumulação de ativos financeiros; outros alcançarão um equilíbrio melhor entre o trabalho e a vida. O investimento em ativos intangíveis será crucial para: reservar tempo para permanecer saudável e investir em ativos de vitalidade; desenvolver fortes relações de apoio; voltar para uma educação em tempo integral, reduzindo competências obsoletas. Uma vida mais longa significa ser mais jovem por mais tempo e esta ‘juventude’ será crucial para navegar nestes diferentes estágios e não ficar preso por hábitos e personas do passado.

Assim como o crescimento passado da longevidade resultou no surgimento de novos estágios de vida (adolescentes e aposentados), novos estágios e idades estão surgindo. Em vidas mais longas, as opções se tornam mais valiosas e, portanto, novos padrões de comportamento de pessoas em seus 20 anos estão surgindo, pois adiam os compromissos tradicionais de casamento, filhos e compra de casa. Eles estão usando seus anos extra para explorar, ou iniciar um negócio como um produtor independente. Aqueles em seus 50 anos estão explorando suas opções, assim que as taxas de divórcio estão diminuindo, em geral, elas estão aumentando para aqueles com mais de 50 e aumentando mais rápido para aqueles em seus 80s. A aposentadoria com parada total de atividades está desaparecendo enquanto as pessoas constroem portfolios para o trabalho, voltam para a escola e exploram o mundo – agora mesmo 1 em cada 8 americanos com mais de 70 anos ainda está trabalhando.

Não há dúvida de que essas mudanças se acumularão nas próximas décadas e afetarão dramaticamente todos os aspectos da vida – econômicos, sociais, financeiros e corporativos. Entender isso vai decidir se vidas mais longas são uma dadiva e não uma maldição.

Esta reestruturação das convenções sociais levará a questões exigentes de empresas e governos, especialmente em torno de crescentes desigualdades na expectativa de vida. No entanto, estamos vivendo em média por mais tempo e estamos mais saudáveis por mais tempo e se podemos redefinir com êxito a estrutura de nossas vidas, então podemos garantir que colhamos os benefícios da longevidade crescente.

Lynda Gratton e Andrew Scott são professores na London Business School e os autores de “A vida de 100 anos – Viver e trabalhar em uma idade de longevidade,” um dos seis livros na lista de indicaçao para o 2016 Financial Times e Prêmio de Melhor Livro de Negocios McKinsey do ano.

[1] Você pode descobrir mais sobre seu investimento atual em seus ativos intangíveis completando o diagnóstico em http://www.100yearlife.com/diagnostic/

Tradução por: Crislayne Santos